Você não é um erro, então esqueça a ideia de que precisa de conserto

Nathália Reis
6 min readMar 12, 2023

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Creio que todo mundo já passou pelo sentimento de achar que está “quebrado” e que precisa de conserto. Já ouvi bastante nos bastidores de trabalho pessoas dizendo que vieram com defeito de fábrica e que precisavam de ajuda para resolver isso.

Conforme a gente vai se aprofundando no autoconhecimento percebe que na verdade nós estamos machucados ou feridos. Logo, o que precisamos é de cura. Apenas esse conceito muda toda percepção dos nossos sentimentos, emoções, comportamentos e visão sobre a vida!

Foto de Jakob Owens no Unsplash

É perfeitamente normal a gente entrar nesse ciclo e achar que tem algo de errado quando passamos por um longo ciclo de abuso. Todo tipo de abuso deixa marcas difíceis. Mas os abusos emocionais parecem ter um efeito diferente. Duram mais que o esperado e nos enganam com facilidade. Pois quando a gente pensa que já curou, vem a vida e nos mostra exatamente o oposto. Sim, já estive lá!

Seja no trabalho, num relacionamento afetivo, nas relações familiares, com nossos amigos — se estamos em ambientes tóxicos, disfuncionais, bagunçados e etc. é natural que o nosso senso crítico seja afetado.

Mesmo que algo de errado não exista com a gente, de tanto alguém repetir passamos a questionar se eles estiveram certos o tempo todo. E o pior, pra provar que eles estão realmente certos no julgamento vamos nos comportar de acordo de maneira inconsciente.

Quando a mágica da cura começa a se manifestar, nos damos conta que na realidade passamos muito tempo vivendo a partir de situações ou traumas não resolvidos. Então conseguimos nos conscientizar que não estamos quebrados e podemos fazer algo melhor a respeito. Ao invés de continuar nos chicoteando pelos nossos tropeços, erros e falta de amor próprio.

Se cure, pois você nunca saberá quem pode precisar da sua luz. Se cure, para que ninguém tenha que se curar de você no futuro!

Você vai perceber que precisa de cura se frequentemente experiencia:

  • Autoabandono ou autoaversão
  • Sentimento de vazio
  • Solidão, mesmo quando tem pessoas próximas
  • Se sente perdida/o na vida
  • Crise existencial, de todas as idades

Motivos comuns pelas quais você se sente assim e o que pode fazer a respeito disso

Zero julgamentos aqui! Eu me questionei diversas vezes durante muito tempo. Na infância enquanto estudava na escola particular, pois não me sentia pertencente naquele ambiente dada “minha origem”. Na adolescência quando minhas amigas “eram mais atraentes que eu”. Na faculdade, quando mais uma vez não me sentia pertencente aquele lugar. Na vida adulta quando passei pelo relacionamento tóxico-abusivo.

Se você se identifica com esses pensamentos ou sentimentos é porque se sentiu (ou talvez ainda sinta) assim em algum momento da sua vida:

“O que há de errado comigo?”
“Será que eu enlouqueci?”
“Será que eu tenho algum defeito?”
“Será que alguém me ama de verdade?”
“Por que eu continuo fodendo tudo?”
“Por que sou tão diferente das outras pessoas?”
“O que diabos tem de errado comigo?”

Existem diversas razões para que você questione seu valor. Isso pode estar instalado na cultura e/ou sociedade da qual faz parte. Veja alguns exemplos de cenários comuns:

  • Educação religiosa rígida: dependendo do que te fizeram acreditar a respeito de Deus, sobre pecado, punição, relacionamento, etc. Tudo isso vai moldar sua percepção de realidade, seu comportamento, pensamento e te colocar numa caixinha. Qualquer deslize vai causar impacto na forma como se enxerga e o que realmente merece da vida.
  • Traumas de infância: normalmente ligados a traumas de pai e mãe, ou de alguma figura que represente esse papel importante em nossas vidas. Surgem de ambientes disfuncionais e faz com que a gente se sinta indigno de receber amor. Não são fáceis ou simples de serem curados, mas vai libertar muitos dos sentimentos e pensamentos negativos a seu respeito.
  • Opressão do sistema: devido a sua raça, orientação sexual, gênero, capacidade física ou intelectual, posição na sociedade, status financeiro. Enfim, se você não faz parte do sistema — seguindo todas as regras do jogo — então você vai passar por um bocado de injustiças, desconfortos, raiva, medo. E um trauma não precisa ser algo tão intenso para deixar feridas profundas em nosso coração.
  • Marketing agressivo-ofensivo: todo aquele conjunto de palavras, imagens, storytelling minuciosamente pensado para fazer com que a gente se sinta inferior, indesejável, feio, não merecedor de algo bom. A não ser que a gente consuma o produto/serviço mágico que estão oferecendo. E na real não tem interesse algum na nossa dor, apenas em nosso dinheiro. Abra os olhos!

Tenha em mente que o trauma não resolvido não é sua culpa. Mas é sua responsabilidade curar o que te fere a partir do momento que chega a sua consciência. Antes disso, somos todos vítimas das circunstâncias!

“Muitas vezes vamos continuar presos no trauma e liderar nossas vidas como se isso ainda estivesse acontecendo. A cada novo gatilho o presente é contaminado pelo passado. Até nosso sistema nervoso é programado para que a gente concentre toda nossa energia em esconder o caos interno, usando nosso bem estar como moeda de troca e permanecendo sem autenticidade ou espontaneidade em nossas vidas.”

Acredito que grande parte das pessoas já teve uma ou todas essas experiências em algum momento da vida. E infelizmente todas elas contribuem para o sentimento de baixa autoestima.

Quando algo ruim acontece (uma falha, rejeição, traição, perda) temos o hábito de acreditar que não temos poder diante disso. E então o destino, a vida, o Universo está nos castigando por termos cometido um deslize.

Não demora muito para vir todos aqueles questionamentos depreciativos ao nosso respeito. Se estamos cercados de pessoas que reforçam apenas o “pior”, então não é difícil cair na armadilha da depressão, ansiedade e por aí vai.

Você não é um produto fiel do que aconteceu com você

A história que contamos para o mundo ao nosso respeito molda nossa realidade. Mas nós podemos tirar o óculos da negatividade e melhorar a nossa percepção, se assim for da nossa vontade.

Questionar que tem algo de errado é compreensível. Mas até quando essa crença vai ditar o curso das coisas? Qualquer medo ou dor emocional sentida está diretamente ligado ao trauma experienciado. E se ainda não foi curado, vai continuar impulsionando as ações e percepções de sempre — de novo e de novo.

“O mundo vai te perguntar quem você é, e se você não souber, o mundo vai te dizer.” — Carl Jung

De acordo com Carl Jung nossas experiências passadas, boas ou ruins, podem influenciar nossa personalidade, valores e crenças. No entanto, ele acreditava que não são as experiências em si que nos definem, mas sim como respondemos elas. Em outras palavras, não somos definidos pelo que acontece com a gente, mas pela forma como escolhemos responder as circunstâncias da vida.

Nós temos o livre arbítrio e com ele a capacidade de superar, transformar e recomeçar nossas vidas de maneira significativa. Temos a inteligência divina que nos trouxe a vida e a habilidade de sair do modo vítima e ditar a forma como queremos que seja nossa vida. Ao invés de permanecer direcionando nossa vida de acordo com os eventos externos.

O otimismo brota de nós sempre que enxergamos os eventos que acontecem como oportunidades de despertar, crescer, transcender. E enquanto não olhamos para dentro (nosso coração) para praticar autoaceitação, a verdadeira cura não acontece.

A vida será resultado de escolhas, decisões, as coisas pela qual acreditamos valer a pena lutar, e o tipo de vida que criamos para nós mesmos!

Quando lideramos nossa vida baseado nos traumas e centrados no ego, vivemos uma vida desalinhada de quem realmente somos. Que tende parecer sem sentido, sem propósito ou vazias em algum nível.

Acolha seus traumas com o mesmo amor que você acolhe as coisas boas que acontecem

Eu adoro praticar journaling, tem um significado especial na vida adulta quando temos a capacidade de compreender certas coisas mais profundamente.

Então, sugiro o seguinte exercício:

Num caderno procure escrever durante 30 dias sobre suas experiências passadas. Observe padrões de pensamento, comportamento, crenças. Você pode encontrar muito ao seu respeito nesses momentos de conexão com você. Utilize as seguintes perguntas para te ajudar:

  1. O que aconteceu comigo?
  2. Como eu sobrevivi a isso?
  3. Se essa fosse a história de outra pessoa, que percepção eu posso ter disso?

Se deixe surpreender pelas descobertas que você pode ter a respeito do que encontrar nesse caderno.

Olá! Meu nome é Nathalia Reis e sou Coach especialista em Psicologia Positiva e Inteligência Emocional. Não conformista e que gosta de sempre questionar o porquê das coisas. Entusiasta de uma vida simples e intencional. Faço isso por uma escolha e não por ser a minha missão de vida! Conheça mais sobre meu trabalho aqui.

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Nathália Reis

Coaching para Gestão de Estresse. Entusiasta de uma Vida Simples e Intencional. Curiosa, questionadora e não-conformista. Visite: www.nathaliareis.com